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INQUÉRITO PODE SER CONCLUÍDO SEM QUE CAMINHONEIRO DE BOM JESUS SEJA ENCONTRADO

A um dia de completar um mês do desaparecimento, permanece o mistério sobre o que aconteceu com o caminhoneiro Luciano Boeira Melos, 27 anos. Nesta sexta-feira (25), o delegado Gustavo Costa do Amaral, que investiga o caso como homicídio qualificado, afirmou que o inquérito pode ser concluído sem que o corpo seja encontrado. Os quatro suspeitos de envolvimento no desaparecimento do homem permanecem presos e, conforme a polícia, mantêm o direito de permanecer em silêncio.

Luciano foi visto pela última vez no dia 26 de julho, quando saiu de casa em Hortêncio Dutra, interior de Bom Jesus, para encontrar uma mulher com a qual mantinha um relacionamento. Ela é casada com outro homem e, tanto ela quanto o marido, estão entre os suspeitos. Além do casal, o pai da mulher e o irmão do marido dela também estão presos e são investigados. A hipótese da polícia é de que, na noite do desaparecimento, o caminhoneiro tenha sido atraído para uma emboscada e morto em seguida.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, não é necessário encontrar o corpo para que o inquérito seja concluído com a confirmação de que houve um homicídio, a exemplo do caso do goleiro Bruno, condenado pela morte de Eliza Samudio. A polícia mantém a expectativa de encontrar o corpo do caminhoneiro, e a previsão é de que o inquérito seja concluído em meados de setembro.

— Sobre o encontro do corpo de Luciano, é difícil e imprevisível porque (Bom Jesus) tem uma área rural imensa. Se eles enterraram em uma cova profunda, fica difícil encontrar com buscas. Mas se deixaram alguma coordenada geográfica registrada nos celulares, existe a possibilidade — afirma Amaral.

A Polícia Civil de Bom Jesus é quem está fazendo a extração dos dados de celulares, que foram apreendidos para a investigação do caso e que, a partir da extração, podem informar alguma coordenada geográfica. Ao todo, são oito aparelhos passando por análise. Os quatro suspeitos apagaram mensagens enviadas pelo Facebook e também pelo WhatsApp, além de excluírem mensagens de celulares de testemunhas. Conforme o delegado, o celular de Luciano não foi encontrado.

Entre os dados já recuperados e informados pelo delegado à reportagem do Pioneiro, estão ameaças de morte feitas por mensagens e enviadas à Luciano pelo pai e também pelo marido da mulher. Outros dados recuperados não foram informados porque a investigação é mantida em sigilo.

Conforme a polícia, a versão dada pela mulher é de que naquela quarta-feira, 26 de julho, ela teria enviado uma mensagem marcando um encontro com o caminhoneiro para terminar o relacionamento entre os dois, que estariam juntos há cerca de três meses. É a mesma versão informada por ela à reportagem, no dia 4 de agosto. O delegado não informou se essa mensagem existiu ou se já foi recuperada durante a extração e disse que “diligências do caso continuam em andamento”.

No Instituto-Geral de Perícias (IGP) de Porto Alegre está sendo feita a perícia de duas armas de fogo, uma registrada no nome do pai e outra no nome do marido da mulher. Além disso, possíveis vestígios de sangue detectados em três carros também são periciados. Os supostos vestígios foram achados em uma caminhonete e em outros dois carros, um do marido e outro do irmão do marido da mulher.

Quando foram analisados, os três carros não apresentavam qualquer sinal visível de sangue, mas reagiram a um material aplicado pela polícia. Caso o vestígio seja confirmado, o delegado acredita que os veículos tenham sido limpos para esconder o crime.

Os quatro suspeitos do crime – mulher, marido, pai (da mulher) e irmão (do marido) – estão presos desde o dia 17 de agosto no Presídio Estadual de Vacaria.

Últimos momentos antes do desaparecimento

No dia 26 de julho, Luciano fez faxina na casa em que mora, no mesmo quintal da casa da mãe, na região de Hortêncio Dutra. Já passava das 19h quando o caminhoneiro foi ouvido por Elizete Boeira, 45 anos, saindo de moto, sem dizer para onde ia. Conforme a mãe do homem, momentos antes ele pediu para ela fazer o jantar e já tinha guardado a moto da garagem, sem ter a intenção de sair de casa naquele dia.

Um comerciante que costuma atender a família revelou que Luciano havia feito um pedido para ser entregue naquela quarta-feira e que teria insistido pelo cumprimento da data de entrega. Eram fronhas de travesseiros e um edredom novos. A família acredita que a faxina e os itens de cama sejam sinal de que ele esperava receber alguém em casa.

Assim que ouviu a moto saindo, Elizete, que recebeu a reportagem do Pioneiro no dia 4 de agosto, revelou ter sentido um aperto no peito e começou a ligar e mandar mensagens para o filho no mesmo instante. A última mensagem respondida por ele chegou precisamente as 20h39min. Entretanto, como a região é de pouco sinal de celular, não é possível saber se foi nesse horário que ele tenha, de fato, enviado a última mensagem para a mãe.

Entre as últimas conversas que teve com o meio-irmão Lucas Silva, Luciano parecia animado e dizia acreditar que ficaria junto com a mulher. No caminho até a casa dela, que mora com o marido e os dois filhos na localidade de Caraúno, Luciano enviou uma mensagem em áudio para Lucas.

Na mensagem , enviada pelo WhatsApp, Luciano parece estar em um lugar com bastante ventania e diz “Ai, Teu (apelido de Lucas), bom? Só para te avisar, estou avisando só tu, fica gelo, né?! Eu estou indo lá na casa dela lá, tá? Disse que saiu de casa, que foi para a casa do pai dela, tá? Em Caraúno, tá? E qualquer coisa você sabe aonde eu estou”. Por causa do vento, o áudio fica mais nítido com fones de ouvido.


Fonte: GaúchaZH